O Vinho

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Produz-se nestas paragens o Vinho da Chave Dourada, vinho licoroso tipo Vinho do
Porto, apenas produzido no concelho de Mação, e que era servido à mesa do rei.
 
 O VINHO DA CHAVE DOURADA

O Autor agradece à Dra. Maria Amélia Horta Pereira Bubner as longas conversas
tidas sobre o tema e a ideia, à época sua convicção, de que o nome Chave Dourada não
podia ter origem na cor de uma chave de um qualquer possível pipo comunitário.
A Chave Dourada é um vinho generoso ou espirituoso com características
peculiares que se produz apenas na região de Mação. E tempos houveram em que este
vinho era um dos grandes embaixadores desta terra.
Já do sec. XVIII nos chegam registos de que era um vinho bem conhecido da
Arcádia Lusitana, fundada em 1756, cantado por diversos Poetas como Filinto Elysio e
Curvo Semedo, sendo no entanto o Poeta António Dinis da Cruz e Silva (1731-1799), o
famoso Elpino Nonacriense, que viria a imortalizar este vinho especial no Dithirambo
VIII (recitado a 31 de Maio de 1759) dedicado à Condessa de Oeiras, esposa de
Marquês de Pombal, com o seguinte poema:

"Não quero Borgonha;
Não quero Champanha;
Não quero Tockai;
Nem vinho do Cabo;
Os vinhos estranhos
Não provo; não gabo.
Quero vinho q' alegre, que aquente;
Dá-me d'esse, que goarda na cuba,
Doce çumo Mação excellente,
Camarista estimado e valído
De Evio Lysio na Casa enramada,
Por isso chamado
Da chave dourada.
Este pois, oh formosa Condessa,
Glória e timbre de Oeiras Formosa,
Te brindo e consagro.
Viva a grande Condessa, viva, viva."
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Sabe-se assim por este poema que o vinho chegava a Oeiras em Cubas (pipos) e
que era um vinho doce, "Dá-me d'esse, que goarda na cuba,/ Doce çumo Mação
excellente", seguindo-se em seguida um verso que tanta confusão fez em muitos
autores e que deram uma ideia errada da origem do nome Chave Dourada, confundindo
Camarista, "Camarista estimado e valído", com algo que estava ou pertencia à Câmara
Municipal, pressupostamente um pipo fechado com uma chave dourada. Ora segundo
Morais da Silva, no seu Novo Dicionário Compacto de Língua Portuguesa, Camarista é
uma pessoa nobre que serve na Câmara do Rei e com ele privando. Temos assim duas
hipóteses de interpretação: uma que elogia o vinho como nobre ao serviço do rei,
estimado e valído (favorito) e outra como fazendo referência a um Camarista específico
de D. José I, nomeado Interprete Mor, membro da real mesa censória e grande apoiante
do Regalismo Pombalino, defendendo afincadamente a separação de poderes entre
Igreja e Estado. Estamos a falar do ilustríssimo Teólogo e Latinista, natural de Mação,
Padre António Pereira de Figueiredo (1725-1797). A sua amizade com o Marquês de
Pombal era proverbial, sendo por ele elogiado da seguinte forma: "O Padre Figueiredo
é um poço de sabedoria sem fundo e sem lama".
Três versos já na parte final "De Evio Lysio na Casa enramada,/ Por isso chamado
/ Da chave dourada." chamam-nos a atenção para a utilização de termos gregos muito
em uso na época, Evio (que se festeja com gritos de Evoé, os gritos das bacantes,
sacerdotisas de Baco, o Deus do vinho) e Lysio (Paraiso) ligados ao enigma da "Casa
enramada" que segundo a iconografia cristã não é mais do que a genealogia de Cristo
representada na Árvore de Jessé (da qual existe um dos mais belos exemplares na Igreja
Matriz de Mação), ou seja a Igreja. O que porventura poderá querer dizer que era
produzido pela Igreja ou em terras da Igreja, e que por isso dava pelo nome de Chave
Dourada, figura recorrente nos seus brasões, principalmente no do Papa, onde se
cruzam uma dourada com uma em prata, como alusão às chaves de S. Pedro, o primeiro
Papa. Ou seja, o nome do vinho é Chave Dourada porque provém de terras da
Igreja/Diocese ou de alguém a ela ligado. Provavelmente era o próprio Padre
Figueiredo, nas suas idas e vindas entre Mação e Lisboa, que oferecia ou
comercializava o vinho no seio da Corte, quer como representante da igreja, quer a
título particular.
Actualmente o vinho da Chave Dourada tem uma produção muito reduzida, sendo
a prova deste "Doce çumo Mação excellente" apenas possível por convite de um dos
raríssimos produtores.
Repensar a produção em escala comercial poderá ser um factor de
desenvolvimento local, tanto a nível económico, como turístico e cultural.
Tó Zé Cardoso - Email: toze.cardoso@sapo.pt
Resumo da introdução histórica do estudo, para publicação, "Vinho da CHAVE
DOURADA - Elemento estruturante do desenvolvimento local", levado a cabo pelo
autor desta crónica, onde são abordadas todas as questões culturais, turísticas, legais,
financeiras e de apoios comunitários, sobre este tema (Âmbito do Mestrado em DPTCIPT,
Gestão Autárquica do Património Cultural).

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Mação Vai Recuperar Vinho Centenário "Chave Dourada"


O vinho "Chave Dourada", vinho licoroso secularmente produzido em Mação, em vias de extinção desde as invasões francesas, vai ser alvo de um projeto da autarquia tendo em vista a sua preservação e conservação.

Preservado e produzido hoje em dia por um reduzido número de produtores que limitam o seu consumo à família e a um círculo restrito de amigos, a sua "fórmula secreta" de fabrico tem passado de geração em geração por três famílias de Mação, permanecendo em "risco latente" de extinção.

Para conservar a tradição e criar uma "imagem de marca Mação", a autarquia vai lançar um programa de revitalização do "Chave Dourada" a partir de algumas pipas seculares que ainda subsistem no concelho e construir uma barrica que, a partir da "mãe" do secular vinho, permita a manutenção e sobrevivência daquele património e tradição.

Durante a Guerra Peninsular, em 1810, "aquilo que os invasores não conseguiram beber, destruíram, derramando o vinho pelo chão e arrombando o tonel", na ocasião já com 110 anos, disse António Louro, vereador na Câmara de Mação e coordenador do projeto.

Então, três pessoas de Mação recuperaram parte da "mãe" do Chave Dourada, a borra ou o pé da secular pipa para manter o licor.

tmp/uvasnobalde.jpg Aconteceu à vinha: 

“A cultura da vinha era a parte mais importante da agricultura deste Concelho, além da oliveira. (...) Vê-se ali também que as povoações do Concelho de Mação que nos tempo actuais não colhem vinho alguma, colhiam há séculos, quantidades importantes do belo sumo da uva.

A invasão do oidium (mal da farinha) aí por 1860, aproximadamente, e posteriormente, a filoxera devastaram quase completamente, as nossas vinhas, extinguindo quase o antigo tipo de vinho de Mação: o afamado vinho da Chave Dourada.

Cerca 1890, a Câmara criou um viveiro de castas americanas De então para cá alguns proprietários têm metido a vinha vários terrenos que produziam milho e trigo, o que é um mal para todos, ainda que mais rendoso para os proprietários.”. tmp/cantoneiro.jpg

Outrora abundava no Concelho uma fauna constituída por animais como: lobo, raposa, gato montês, texugo, veado, javali, cabra montesa, corça, coelho, lebre e perdiz.
Na primeira década do século XX, dá-se conta que o concelho de Mação era muito fértil em cereais, azeite, vinhos e frutas e que nos seus montes havia muita caça. Embora as produções agrícolas fossem, então, consideradas de excelente qualidade, sendo afamadas as laranjas da Aboboreira e de Vale Grou e o mel do Carvoeiro, o que mais nome dava nome à lavoura era o vinho conhecido pelo nome de Chave Dourada, que nesta data continuava em decadência.

tmp/grapes.jpg"A melhor casta" - Alusiva à produção vinícola 

"No distrito de Santarém, a videira encontra-se dispersa nos concelhos de Benavente, Coruche, Salvaterra de Magos, Almeirim, Alpiarça e Chamusca, na margem esquerda do Tejo, e de Cartaxo, Santarém, Rio Maior, Golegã, Vila Nova da Barquinha, Entroncamento, Alcanena, Torres Novas, Constância, Abrantes, Sardoal e Mação, na margem direita do Tejo e, ainda, de Tomar, Vila Nova de Ourém e Ferreira do Zêzere. Todavia é nos concelhos de Almeirim, Alpiarça, Cartaxo, Santarém, Rio Maior e Vila Nova de Ourém onde se encontra a videira em povoamentos dominantes, formando os vinhedos mais extensos do distrito.
Nos concelhos de Coruche, Salvaterra de Magos, Almeirim, Cartaxo, Tomar e Vila Nova de Ourém a videira encontra-se, em parte, associada a culturas arbóreas.
As castas tintas predominantes na região do Ribatejo são Trincadeira, Mortágua e João de Santarém e as castas brancas são principalmente Fernão Pires, Terrantez, Rabo-de-Ovelha, Boais e Jampal."tmp/uvasplastico.jpg

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Vinho rosé de Abrantes foi considerado o melhor do mundo Autor Bruno Oliveiraem destaque, twitter, ÚltimasMai 5, 2010

O vinho Casal da Coelheira Rosé 2009 foi considerado o melhor vinho rosé do mundo na edição deste ano do Concurso Mundial de Bruxelas, na Bélgica, recebendo o "Best Wine Trophy". Perante 275 provadores oriundos de 40 países, que apreciaram e votaram nos 6964 vinhos e espirituosos a concurso, este vinho rosé produzido em Tramagal, Abrantes, em 64 hectares de vinhas plantadas à beira Tejo, obteve ainda uma das seis "Grande Médaille d'Or", atribuídas no certame, fazendo parte do restrito lote de "melhor resultado absoluto" registado em cada uma das categorias. Nuno Rodrigues, proprietário e enólogo da Quinta Casal da Coelheira, disse à agência Lusa ter sido com "surpresa, orgulho e euforia" que recebeu a notícia, tendo acrescentado que este prémio, "do conjunto de prémios e reconhecimentos internacionais, é o melhor alguma vez alcançado". "Diria mesmo que, na carreira de um bom enólogo e pelo prestígio do certame, este é o acontecimento de uma vida", afirmou Nuno Rodrigues, que ainda viu o seu Mythos tinto 2007 ser galardoado com uma medalha de prata. "O segredo do sucesso", conta, "está na polivalência e na boa conjugação entre solo e clima ambiental, que permite alcançar bons resultados em vários tipos de vinhos. "A diferença entre um vinho bom e muito bom", disse o enólogo, "está na vinha, com a atenção e dedicação de toda uma equipa de colaboradores, permanentes e sazonais, e no trabalho dos enólogos, que depois potenciam as mais valias da uva, como foi o caso da excepcional qualidade registada em 2009 e que permitiu agora alcançar este feito em Bruxelas". Desde o seu início, em 1994, o Concurso Mundial de Bruxelas tem-se afirmado como " O Concurso Mundial", unicamente constituído pelos melhores profissionais internacionais do vinho e reunindo hoje cerca de 7000 produtos dos quatro continentes, representando mais de 500 milhões de garrafas comercializadas. Feito a partir das castas Touriga Nacional e Syrah, este rosé "sai do conceito leve e refrescante do rosé tradicional", disse à Lusa Duarte Lopes, que completa a equipa de enólogos da Quinta Casal da Coelheira, acrescentando que este rosé apresenta "mais volume e estrutura, um teor de álcool equivalente aos vinhos tintos (13,5ºC) e uma graduação de açúcar mais elevado do que o habitual". "É uma fórmula que confere outro volume e estrutura ao vinho rosé e que se apresenta com uma abordagem muito atractiva ao paladar, pelas frutas e aromas, devendo ser servido entre os 8ºC e os 10ºC". "Por ser um vinho fresco, jovem e elegante, pode ser apreciado como aperitivo ou a acompanhar iguarias leves, como marisco, peixes, carnes brancas ou saladas", acrescentou o enólogo. Com 8 profissionais a tempo inteiro, no campo e na adega, a Quinta Casal da Coelheira apresenta um volume de facturação anual na ordem dos 900 mil euros, produzindo vinhos tintos, brancos e roses para o mercado nacional e para países como Brasil e Canadá, Angola, Alemanha, Polónia, Espanha, Luxemburgo, Reino Unido, Suíça e Holanda, entre outros. Outras notícias que lhe podem interessar Vinho de Cadouços entre os seis melhores do mundo Dupla de Abrantes em 5º lugar no campeonato do mundo de pesca.

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 A Vinha e o Vinho em Portugal
 
O passado conhece-se em termos de memória colectiva. A própria noção de identidade está ligada ao que perdura, ao que distingue e ao que se recorda. Assim, e neste contexto, convidamo-lo a fazer uma pequena viagem pela História da Vinha e do Vinho em Portugal!
Desde os tempos mais remotos, o vinho tem vindo a desempenhar um papel de relevo em quase todas as civilizações. "Fruto da videira e do trabalho do Homem", não é ultrapassado por nenhum outro produto da agricultura, aliando esse fruto saboroso e nutritivo à bebida privilegiada, precioso néctar, dele extraída.
Repleto de simbologia, impregnado de religiosidade e de misticismo, o vinho surge desde muito cedo na nossa literatura, tornando-se fonte de lendas e inspiração de mitos.
As expressões "dádiva de deuses", "Sangue de Cristo", e "essência da própria vida" atribuídas a este produto corroboram bem o papel do vinho na vertente cultural bem como a sua importância na nossa civilização, a que chamamos "ocidental", cujos fundamentos se encontram no direito romano e na religião cristã, que desde sempre enalteceram e dignificaram este saboroso líquido.
Mas... tentemos fazer uma pequena viagem até às mais recônditas origens, na história da vinha e do vinho em Portugal.
2 000 anos a.C.; séc.X a.C.- séc.II a.C.
Reino de Tartessos; Fenícios e Gregos; Celtas e Iberos
Embora envolto em muitas dúvidas e mitos, pensa-se que a vinha terá sido cultivada pela primeira vez em terras da Península Ibérica (vale do Tejo e Sado), cerca de 2 000 anos a.C., pelos Tartessos, dos mais antigos habitantes desta Península, cuja civilização parece ter sido bastante avançada. Estes habitantes estabeleciam negociações comerciais com outros povos, permutando diversos produtos, entre os quais o vinho, que veio a servir, provavelmente, de moeda de troca no comércio de metais.
Os Fenícios, cerca do século X a.C., acabaram por se apoderar do comércio dos Tartessos, incluindo o respeitante aos vinhos. Pensa-se que tenham trazido alg
umas castas de videiras que introduziram na Lusitânia.
No século VII a.C. os Gregos instalaram-se na Península Ibérica e desenvolveram a viticultura, dando uma particular atenção à arte de fazer vinho.
Na necrópole de Alcácer do Sal foi encontrada uma "cratera" grega de sino, vaso onde os Gregos diluíam o vinho com água antes de o consumirem.
Alguns autores referem que Ulisses, ao fundar a cidade de Lisboa (a que deu o nome de Ulisseia ou Olisipo) seguiu o costume usado nas suas viagens, oferecendo vinho para festejarem com ele as boas vindas.
Crê-se que no século VI a.C. os Celtas, a quem a videira já era familiar, teriam trazido para a Península as variedades de videira que cultivavam. É também provável que tenham trazido técnicas de tanoaria.
Os Celtas e os Iberos fundiram-se num só povo - os Celtiberos -, ascendentes dos Lusitanos, povo que se afirma no século IV a.C.
Séc.II a.C. a Século VII d.C.
Romanos e Povos Bárbaros
A expansão guerreira de Roma na Península Ibérica conduziu aos primeiros contactos com os Lusitanos, cerca de 194 a.C.
Seguiram longos anos de lutas de guerrilha, só vencidas pelos Romanos dois séculos depois, com a conquista de toda a Península em 15 a.C., conseguindo subjugar os Lusitanos.
A romanização na Península contribuiu para a modernização da cultura da vinha, com a introdução de novas variedades e com o aperfeiçoamento de certas técnicas de cultivo, designadamente a poda.
Nesta época, a cultura da vinha teve um desenvolvimento considerável, dada a necessidade de se enviar frequentemente vinho para Roma, onde o consumo aumentava e a produção própria não satisfazia a procura.
Seguiram-se as invasões bárbaras e a decadência do Império Romano. A Lusitânia foi disputada aos romanos por Suevos e Visigodos que acabaram por vencê-los em 585 d.C, tendo-se dado, com o decorrer do tempo, a fusão de raças e de culturas, passando-se do paganismo à adopção do Cristianismo.
É nesta época (séculos VI e VII d.C.), que se dá a grande expansão do Cristianismo (apesar de já ser conhecido na Península Ibérica desde o séc. II). O vinho torna-se então indispensável para o acto sagrado da comunhão. Os documentos canónicos da época evidenciam a "obrigatoriedade" da utilização do vinho genuíno da videira na celebração da missa (produto designado por "não corrompido", ao qual tivesse sido apenas adicionada uma pequena porção de água).
Ao assimilar a civilização e religião dos romanos, os "bárbaros" adoptaram igualmente o vinho, considerando-o como a bebida digna de povos "civilizados". No entanto, não introduziram quaisquer inovações no cultivo da videira.
Século VIII a XII
Alta Idade Média - Invasão dos Árabes
No início do Século VIII outras vagas de invasores se seguiram, desta vez vindas do Sul. Com a influência árabe começava um novo período para a vitivinicultura Ibérica.
O Corão proibia o consumo de bebidas fermentadas, onde o vinho se inclui. No entanto, o emir de Córdoba que governava a Lusitânia, mostrou-se tolerante para com os cristãos, não proibindo a cultura da vinha nem a produção de vinho. Havia uma razão: para os Árabes, a agricultura era importantíssima, aplicando-se aos agricultores uma política baseada na benevolência e protecção, desde que estes se entregassem aos trabalhos rurais, para deles tirarem o melhor proveito. Mesmo no Algarve, onde o período do domínio árabe foi mais longo, ultrapassando cindo séculos, produziu-se sempre vinho, embora se seguissem os preceitos islâmicos.
Lisboa manteve, deste modo, o seu comércio tradicional de exportação de vinho.
Nos séculos XI e XII, com o domínio dos Almorávidas e Almoadas, os preceitos do Corão foram levados com maior rigor, dando-se, então, uma regressão na cultura da vinha.
Século XII a XIV
Baixa Idade Média
Entre os séculos XII e XIII, o vinho constituiu o principal produto exportado. Documentos existentes, designadamente doações, legados, livros ou róis de aniversários, livros de tombos de bens, etc., confirmam a importância da vinha e do vinho no território português, mesmo antes do nascimento da nacionalidade. Conhecem-se doações que incluíam vinhas ao Mosteiro de Lorvão, entre 950 e 954.
Entretanto, já se tinha iniciado a Reconquista Cristã. As lutas dão-se por todo o território e as constantes acções de guerra iam destruindo as culturas, incluindo a vinha.
A fundação de Portugal, em 1143 por D. Afonso Henriques, e a conquista da totalidade do território português aos mouros, em 1249, permitiu que se instalassem Ordens religiosas, militares e monásticas, com destaque para os Templários, Hospitalários, Sant'Iago da Espada e Cister, que povoaram e arrotearam extensas regiões, tornando-se activos centros de colonização agrícola, alargando-se, deste modo, as áreas de cultivo da vinha.
O vinho passou, então, a fazer parte da dieta do homem medieval começando a ter algum significado nos rendimentos dos senhores feudais. No entanto, muita da sua importância provinha também do seu papel nas cerimónias religiosas. Daí o interesse dos clérigos, igrejas e mosteiros, então em posição dominante, pela cultura da vinha.
Os vinhos de Portugal começaram a ser conhecidos até no norte da Europa. Consta que o duque de Lencastre, após o seu desembarque na Galiza, quando veio a Portugal em auxílio de D. João I na luta contra Castela, conhecendo já a fama dos nossos vinhos, mostrou desejo de provar o vinho de Ribadavia, tendo-o achado "muito forte e fogoso"...
Foi na segunda metade do século XIV, que a produção de vinho começou a ter um grande desenvolvimento, renovando-se e incrementando-se a sua exportação.
Século XV - XVII
Idade Moderna - Renascimento
Nos séculos. XV e XVI, no período da expansão portuguesa, as naus e galeões que partiram em direcção à Índia, um dos produtos que transportavam era o vinho. No período áureo que se seguiu aos Descobrimentos, os vinhos portugueses constituíam lastro nas naus e caravelas que comercializavam os produtos trazidos do Brasil e do Oriente.
Será talvez oportuno referirem-se aqui os vinhos de "Roda" ou de "Torna Viagem". Se pensarmos quanto tempo demoravam as viagens... Eram, na generalidade, cerca de seis longos meses em que os vinhos se mantinham nas barricas, espalhadas pelos porões das galés, sacudidas pelo balancear das ondas, ou expostos ao sol, ou por vezes até submersas na água dos do fundo dos navio... E o vinho melhorava!
Tal envelhecimento suave era proporcionado pelo calor dos porões ao passarem, pelo menos duas vezes, o Equador e pela permanência do vinho nos tonéis, tornando-os ímpares, preciosos e, como tal, vendidos a preços verdadeiramente fabulosos. O vinho de "roda" ou de "torna viagem" veio assim facultar o conhecimento empírico de um certo tipo de envelhecimento, cujas técnicas científicas se viriam a desenvolver posteriormente.
Em meados do século XVI, Lisboa era o maior centro de consumo e distribuição de vinho do império - a expansão marítima portuguesa levava este produto aos quatro cantos do mundo.
Chegados ao século XVII, o conjunto de publicações de várias obras de cariz geográfico e relatos de viagens, quer de autores portugueses, quer de autores estrangeiros, permite-nos entender o percurso histórico das zonas vitivinícolas portuguesas, o prestígio dos seus vinhos e a importância do consumo e do volume de exportações.
Século XVIII a XX
Idade Contemporânea
Em 1703, Portugal e a Inglaterra assinaram o Tratado de Methwen, onde as trocas comerciais entre os dois países foram regulamentadas. Ficou estabelecido um regime especial para a entrada de vinhos portugueses em Inglaterra. A exportação de vinho conheceu então um novo incremento.
No século XVIII, a vitivinicultura, tal como outros aspectos da vida nacional, sofreu a influência da forte personalidade do Marquês de Pombal.
Assim, uma grande região beneficiou de uma série de medidas proteccionistas - a região do Alto Douro e o afamado Vinho do Porto. Em consequência da fama que este vinho tinha adquirido, verificou-se um aumento da sua procura por parte de outros países da Europa, para além da Inglaterra, importador tradicional. As altas cotações que o Vinho do Porto atingiu fizeram com que os produtores se preocupassem mais com a quantidade do que com a qualidade dos vinhos exportados, o que esteve na origem de uma grave crise.
Para pôr fim a esta crise, o Marquês de Pombal criou, por alvará régio de 10 de Setembro de 1756, a Companhia Geral da Agricultura das Vinhas do Alto Douro, com o fim de disciplinar a produção e o comércio dos vinhos da região, prevendo ainda a necessidade de se fazer, urgentemente, a demarcação da região, o que veio a concretizar-se. Assim, segundo alguns investigadores, foi esta a primeira região demarcada oficialmente no mundo vitivinícola.
O século XIX foi um período negro para a vitivinicultura. A praga da filoxera, que apareceu inicialmente na região do Douro em 1865, rapidamente se espalhou por todo o país, devastando a maior parte das regiões vinícolas. Colares foi a única excepção, porque a filoxera não se desenvolve nos terrenos de areia, onde as suas vinhas se cultivam, ainda hoje.
Assim, para fazer face a este flagelo, logo em 1866, António Augusto de Aguiar, juntamente com João Inácio Ferreira Lapa e o Visconde de Vila Maior, foram encarregados de avaliar a situação dos centros vinícolas do país e de estudar os processos que neles se adoptavam. Este conhecimento da situação concreta da vitivinicultura portuguesa, levou António Augusto de Aguiar à nomeação de Comissário Régio na Exposição de Vinhos, realizada em Londres, em 1874. Foi justamente no âmbito da sua participação nesta exposiçãoe da digressão científica que fez pelos países europeus produtores de vinhos, que desencadeou a análise crítica e audaz ao sector vitivinícola nacional, expressa nas famosas Conferências sobre Vinhos, proferidas por António Augusto de Aguiar, em 1875, no Teatro de D. Maria e, posteriormente, no da Trindade.
O início do século XX, foi marcado pela Exposição Universal de Paris emblematicamente inaugurada em 1900. Portugal participou activamente neste evento, dedicando especial atenção à secção de Agricultura, por todos considerada o sector mais importante da nossa representação. Deste evento, ficou-nos a obra fundamental de B. C. Cincinnato da Costa, "Le Portugal Vinicole", editada especificamente para ser apresentada na exposição.
Em 1907/1908, iniciou-se o processo de regulamentação oficial de várias outras denominações de origem portuguesas. Para além da região produtora de Vinho do Porto e dos vinhos de mesa Douro, demarcavam-se as regiões de produção de alguns vinhos, já então famosos, como são o caso dos vinhos da Madeira, Moscatel de Setúbal, Carcavelos, Dão, Colares e Vinho Verde.
Com o Estado Novo (1926/1974), foi iniciada a "Organização Corporativa e de Coordenação Económica", com poderes de orientação e fiscalização do conjunto de actividades e organismos envolvidos. Foi neste contexto que se criou a Federação dos Vinicultores do Centro e Sul de Portugal (1933), organismo corporativo dotado de grandes meios e cuja intervenção se marcava, fundamentalmente, na área da regularização do mercado.
À Federação, seguiu-se a Junta Nacional do Vinho (JNV) (1937), organismo de âmbito mais alargado, que intervinha tendo em conta o equilíbrio entre a oferta e o escoamento, a evolução das produções e o armazenamento dos excedentes, em anos de grande produção, de forma a compensar os anos de escassez.
A JNV veio a ser substituída em 1986 (D.L. nº 304/86 de 22 de Setembro) pelo Instituto da Vinha e do Vinho (IVV), organismo adaptado às estruturas impostas pela nova política de mercado decorrente da adesão de Portugal à Comunidade Europeia.
Surge, então, uma nova perspectiva na economia portuguesa e, consequentemente, na viticultura. O conceito de Denominação de Origem foi harmonizado com a legislação comunitária, e foi criada a classificação de "Vinho Regional", para os vinhos de mesa com indicação geográfica, reforçando-se a política de qualidade dos vinhos portugueses.
Com objectivos de gestão das Denominações de Origem e dos Vinhos Regionais, de aplicação, vigilância e cumprimento da respectiva regulamentação, foram constituídas Comissões Vitivinícolas Regionais (associações interprofissionais regidas por estatutos próprios), que têm um papel fundamental na preservação da qualidade e do prestígio dos vinhos portugueses.
Actualmente estão reconhecidas e protegidas, na totalidade do território português,
33 Denominações de Origem e 8 Indicações Geográficas.
Algumas curiosidades históricas
• Moscatel de Setúbal - (1381) Nesta data Portugal já exportava grande quantidade deste vinho para a Inglaterra.
• Vinho do Porto - o Tratado de Methwen (1703) assinado entre Portugal e a Grã-Bretanha, contribuiu para a popularidade deste vinho que beneficiava de taxas aduaneiras preferenciais. Durante o século XVIII, para os ingleses, vinho era praticamente sinónimo de vinho do Porto.
• Vinhos da Chave Dourada - A Chave Dourada é um vinho generoso ou espirituoso com características
peculiares que se produz apenas na região de Mação. E tempos houveram em que este
vinho era um dos grandes embaixadores desta terra.
Já do sec. XVIII nos chegam registos de que era um vinho bem conhecido da
Arcádia Lusitana, fundada em 1756, cantado por diversos Poetas como Filinto Elysio e
Curvo Semedo, sendo no entanto o Poeta António Dinis da Cruz e Silva (1731-1799), o
famoso Elpino Nonacriense, que viria a imortalizar este vinho especial no Dithirambo
VIII (recitado a 31 de Maio de 1759) dedicado à Condessa de Oeiras, esposa de
Marquês de Pombal, 
• Vinhos da Bairrada - No Reinado de D. Maria I (1734/1816) os vinhos portugueses adquiriram grande projecção, tendo-se iniciado a exportação de vinhos, com destaque para os desta região, que foram exportados para a América do Norte, França, Inglaterra e, em especial, para o Brasil, onde eram muito apreciados.
• Vinho de Bucelas - Com as Invasões Francesas (1808/1810) este vinho começou a ser conhecido internacionalmente. Wellington apreciava-o de tal maneira que o levou de presente ao então príncipe regente, mais tarde Jorge III de Inglaterra. Depois da Guerra Peninsular, este vinho tornou-se um hábito na corte Inglesa.
No tempo de Shakespeare (1564/1613) o vinho de Bucelas era conhecido por "Lisbon Hock" (vinho branco de Lisboa) (1564/1613).
• Vinho de Carcavelos - (1808/1810) foi bem conhecido das tropas de Wellington que o levaram para Inglaterra, tendo sido, durante largos anos, exportado em grandes quantidades.
• Vinho da Madeira - (1808/1810) Considerado um dos vinhos de maior requinte nas cortes europeias, tendo chegado mesmo a ser usado como perfume para os lenços das damas da corte. Na corte inglesa este vinho rivalizava com o vinho do Porto. Shakespeare (1564/1613) referiu-se ao vinho da Madeira como essência preciosa, na sua peça "Henrique IV".
O duque de Clarence, irmão de Eduardo IV (séc. XV) deixou o seu nome ligado a este vinho quando, ao ter sido sentenciado à morte na sequência de um atentado contra o seu irmão, escolheu morrer por afogamento num tonel de Malvasia da Madeira.
Mas para além da Inglaterra, também a França, a Flandres e os Estados Unidos o importavam.
Francisco I (1708/1765), orgulhava-se de o possuir e considerava-o "o mais rico e delicioso de todos os vinhos da Europa". As famílias importantes de Boston, Charleston, Nova Iorque e Filadélfia disputavam umas às outras os melhores vinhos da Madeira.
• Vinho do Pico - Açores - (Séc. XVIII) foi largamente exportado para o Norte da Europa e até mesmo para a Rússia. Depois da revolução (1917), foram encontradas garrafas de vinho "Verdelho do Pico" armazenadas nas caves dos antigos czares.
 



 

INSTITUTO POLITÉCNICO DE TOMAR

ESCOLA SUPERIOR DE GESTÃO DE TOMAR

Departamento de Gestão Turística e Cultural

MESTRADO EM DESENVOLVIMENTO DE PRODUTOS

DE TURISMO CULTURAL

Disciplina de Gestão Autárquica do Património Cultural

Vinho da

CHAVE DOURADA

ELEMENTO ESTRUTURANTE

DO DESENVOLVIMENTO LOCAL

António Cardoso

Tomar Abril de 2009

2

António José Marques Cardoso Nº 14153

Vinho da

CHAVE DOURADA

ELEMENTO ESTRUTURANTE

DO DESENVOLVIMENTO LOCAL

Unidade Curricular: Gestão Autárquica Do Património Cultural

Docente: Professor Doutor Luís Mota Figueira

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Resumo

Este trabalho pretende mostrar as potencialidades como Produto cultural e económico

de um Vinho Espirituoso de qualidade singular, existente no Concelho de Mação, as

parcerias possíveis para o seu desenvolvimento como negócio, o seu relacionamento

com o Território onde se insere e qual o seu posicionamento no mercado.

Faz ainda uma análise do seu enquadramento histórico e legal, retrocedendo à época do

Marquez de Pombal e analisando perspectivas de futuro baseadas na legislação existente

e nas normativas da União Europeia. Dando a conhecer as necessidades estruturais e

organizativas para a implementação deste produto, como factor de desenvolvimento

económico e cultural integrado e sustentável.

Palavras-chave: Património, Vinho Espirituoso, Desenvolvimento Local Integrado,

Sustentável, Viabilidade Económica, Rural, Chave Dourada.

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Agradecimentos

O Autor agradece à

Dra. Maria Amélia Horta Pereira

as longas conversas tidas sobre o tema e a ideia, que era à época sua convicção, de que o

nome Chave Dourada não poderia ter proveniência na cor de uma chave de um qualquer

pipo comunitário.

E ao caríssimo amigo

António Ferreira

grande entusiasta da produção deste vinho peculiar e um dos redactores dos Estatutos da

futura Confraria da Chave Dourada, pelo incentivo entusiástico com que me brindou,

durante o desenrolar da investigação para este trabalho.

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Metodologia

Para a realização deste trabalho foi utilizado uma metodologia baseada na definição de

enquadramentos sucessivos, nas várias áreas pertinentes para a consolidação da

pesquisa, com o fim de delinear as várias vertentes da temática abordada.

Como as perguntas de partida eram sobejamente objectivas, foi necessário também fazer

um tratamento objectivo da informação, tentando reunir as partes dispersas num

conjunto coerente e legível.

Começou-se pela História do produto, utilizando-se documentos bibliográficos e

webgráficos, complementados por uma interpretação iconográfica, que ajudasse à sua

compreensão como importante património cultural.

O suporte legislativo que se segue, tem por fim a análise da viabilidade legal e

económica do projecto e o seu enquadramento em estratégias de desenvolvimento.

Em seguida foi feito um apanhado de recursos, mercados, necessidades e valor do

negócio, assim como dos reflexos da sua relação com outros recursos e produtos no

território de acção.

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Siglas e Abreviaturas

JNV - Junta Nacional dos Vinhos

IVV - Instituto da Vinha e do Vinho

DGQSI - Direcção Geral da Qualidade e Segurança Industriais

AGA - Direcção Geral do Açúcar e do Álcool

MADRP - Ministério da Agricultura do Desenvolvimento Rural e das Pescas

PEN - Plano Estratégico Nacional

PENT - Plano Estratégico Nacional de Turismo

PPOMA - Programa para a Promoção dos Ofícios e das Micro Empresas Artesanais

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ÍNDICE

Introdução 8

1 - Enquadramento Histórico 9

2 - Enquadramento Legal 11

3 - A Produção de Chave Dourada como factor de Desenvolvimento Local 13

4 - Inserção em programas e estratégias de desenvolvimento 14

5 - Recursos Existentes (produtores e vinhas) 15

6 - Posicionamento do Produto - Potencial de Crescimento do Mercado 16

7 - Concorrentes Directos na Classe 16

8 - Análise SWOT 17

9 - Efeitos de Arrastamento e Relações com outros produtos no Território 18

10 - Necessidade de criação de Estruturas específicas no Território 18

11 - Valor do negócio 19

Conclusão 20

Bibliografia 22

Webgrafia 22

Outros documentos consultados 23

8

Introdução

O Vinho da Chave Dourada é desde sempre uma possibilidade, uma espécie de salvador

da Pátria para Mação. E Mação tem estado sentado em cima deste conceito sem

equacionar o valor real e a dimensão do que seria apostar conscientemente na sua

produção em larga escala.

Para podermos começar a abordar o assunto de uma forma coerente impõem-se, logo de

início, duas pertinentes perguntas de partida:

- Qual a contribuição para o desenvolvimento local?

- Qual o valor do negócio?

Para respondermos a estas perguntas, começa-se por fazer um enquadramento histórico,

rompendo com suposições alvitradas até agora por todos os autores que discorreram

sobre o assunto, procurando, tanto quanto possível, a verdade dentro dos pouco

elementos disponíveis. Este estudo sobre o passado pode ter repercussões actuais, quer

na divulgação, quer no enquadramento legal que se segue, onde é analisada a legislação

disponível, quer nos apoios possíveis à produção da Chave Dourada.

As Estratégias de Desenvolvimento existentes a nível regional e nacional podem ser um

factor preponderante e um mundo de oportunidades, para um desenvolvimento

integrado e sustentável, apesar da notória ausência de uma estrutura básica de apoio que

suporte todas as iniciativas que venham a ser efectuadas. A autarquia, como é de

esperar, tem um papel importante na organização e coordenação da implementação

deste processo económico e cultural, facilitando procedimentos e apoiando logística e

tecnicamente os esforços individuais ou colectivos que venham a surgir.

Poderão então surgir reestruturações em actividades tradicionais complementares à

produção deste produto, com vista à sua rentabilização efectiva, e o despontar de novas

actividades necessárias ao seu desenvolvimento sustentável.

Na análise deste processo pondera-se a necessidade de criação de estruturas

associativas, entre outras, com o fim de dignificar a produção e o Território.

Para finalizar, tentamos fazer um estudo empírico sobre o possível valor do negócio em

questão, para situar esta actividade comercial e cultural, dentro do tecido económico

local.

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1 - Enquadramento Histórico

A Chave Dourada é um vinho generoso ou espirituoso com características peculiares

que se produz apenas na região de Mação.

Vinho muito apreciado pelos habitantes do concelho e pelos seus visitantes, apenas se

pode provar em adegas particulares, não existindo actualmente uma estrutura de

produção comercial que justifique a sua divulgação em média ou larga escala.

Não se pode, no entanto, deixar de verificar que esta situação presente nem sempre se

verificou. Havendo tempos em que este vinho era um grande embaixador de terras de

Mação.

Já do sec. XVIII nos chegam registos de que era um vinho bem conhecido da Arcádia

Lusitana, fundada em 1756, onde foi cantada por diversos Poetas como Filinto Elysio e

Curvo Semedo (Serrano, 1935), sendo no entanto o Poeta António Dinis da Cruz e

Silva (1731-1799), o famoso Elpino Nonacriense, que viria a imortalizar este vinho

especial no Dithirambo VIII (recitado a 31 de Maio de 1759) dedicado à Condessa de

Oeiras, esposa de Marquês de Pombal, com o seguinte poema:

Não quero Borgonha;

Não quero Champanha;

Não quero Tockai;

Nem vinho do Cabo;

Os vinhos estranhos

Não provo; não gabo.

Quero vinho q' alegre, que aquente;

Dá-me d'esse, que goarda na cuba,

Doce çumo Mação excellente,

Camarista estimado e valído

De Evio Lysio na Casa enramada,

Por isso chamado

Da chave dourada.

Este pois, oh formosa Condessa,

Glória e timbre de Oeiras Formosa,

Te brindo e consagro.

Viva a grande Condessa, viva, viva.

10

Este é o registo principal que nos fornece pistas para o estudo das suas origens. Não se

sabendo ao certo o autor do processo singular da sua produção nem a que data remonta,

pode-se no entanto fazer algumas suposições em relação ao seu nome, a sua

proveniência e a sua relação com o Marquês de Pombal.

Sabe-se assim por este poema que o vinho chegava a Oeiras em Cubas (pipos) e

que era um vinho doce (Dá-me d'esse, que goarda na cuba,/ Doce çumo Mação

excellente), seguindo-se em seguida um verso que tanta confusão fez em muitos autores

e que deram uma ideia errada da origem do nome Chave Dourada, confundindo

Camarista (Camarista estimado e valído) com algo que estava ou pertencia à Câmara

Municipal, pressupostamente um pipo fechado com uma chave doirada. Ora segundo

Morais da Silva, no seu Novo Dicionário Compacto de Língua Portuguesa, Camarista é

uma pessoa nobre que serve na Câmara do Rei e com ele privando. Temos assim duas

hipóteses de interpretação: uma que elogia o vinho como nobre ao serviço do rei,

estimado e valído (favorito) e outra como fazendo referência a um Camarista específico

de D. José I, nomeado Interprete Mor, membro da real mesa censória e grande apoiante

do Regalismo Pombalino, defendendo afincadamente a separação de poderes entre

Igreja e Estado. Estamos a falar do ilustríssimo Teólogo, natural de Mação, Padre

António Pereira de Figueiredo (1725-1797) que escreveu na sua "Tentativa Teológica"

(1766) que "intrometer-se o sucessor de Pedro a ser juiz dos estados e domínios

seculares, é uma usurpação dos direitos alheios; uma conduta totalmente alheia à

conduta e praxe dos apóstolos; um abuso das chaves da Igreja que só devem ter por

objecto as consciências e não a fazenda". A sua amizade com o Marquês de Pombal

era proverbial sendo por ele elogiado da seguinte forma: "O Padre Figueiredo é um

poço de sabedoria sem fundo e sem lama"(Gueifão, 1999).

Três versos já na parte final (De Evio Lysio na Casa enramada,/ Por isso chamado / Da

chave doirada.) chamam-nos a atenção para a utilização de termos gregos muito em

uso na época, Evio (que se festeja com gritos de Evoé, os gritos das bacantes,

sacerdotisas de Baco) e Lysio (Paraiso) ligados ao enigma da "Casa enramada" que

segundo a iconografia cristã não é mais do que a genealogia de Cristo representada na

Árvore de Jessé (da qual existe um dos mais belos exemplares na Igreja Matriz de

Mação), ou seja a Igreja. O que porventura poderá querer dizer que era produzido pela

Igreja ou em terras da Igreja, e que por isso dava pelo nome de Chave Dourada, figura

recorrente nos seus brasões, principalmente no do Papa, onde se cruzam uma dourada

11

com uma em prata, como alusão às chaves de S. Pedro, o primeiro Papa. O próprio

Padre Figueirdo, faz uma alusão às chaves da Igreja (parágrafo anterior). Ou seja, o

nome do vinho é Chave Dourada porque provém de terras da Igreja/Diocese.

Provavelmente também era o próprio Padre Figueiredo, nas suas idas e vindas entre

Mação e Lisboa, que oferecia ou comercializava o vinho no seio da Corte, quer como

representante da igreja quer a título particular.

Actualmente o vinho da Chave Dourada está reduzido a pouquíssimos produtores que

produzem menos de 10 garrafas anuais cada um. O que, por razões óbvias, justifica a

ausência de uma estrutura comercial, sendo a prova deste "Doce çumo Mação

excellente" apenas possível por convite de um dos raríssimos produtores.

Repensar a produção em escala comercial poderá ser um factor de desenvolvimento

local, tanto a nível económico, como turístico e cultural.

2 - Enquadramento Legal

Tendo como objectivo contribuir para a produção de Chave Dourada numa perspectiva

comercial, transformando-a num factor de desenvolvimento local, impõe-se uma

abordagem dos possíveis enquadramentos legais onde esta tipologia de negócio possa

ser inserida.

No Repertório de Actividades Artesanais, a produção deste tipo de vinho está referido

com o CAE 15913, e rege-se pelo Decreto-Lei n.o 41/2001, de 9 de Fevereiro, relativo

ao estatuto do artesão e da unidade produtiva artesanal, com as alterações inseridas pelo

Decreto-Lei n.o 110/2002 de 16 de Abril. Que resumidamente permite a sua produção e

comercialização, bem como os acessos a apoios financeiros e outros patrocinados pelo

estado ou em que este sirva de intermediário, dentro dos requisitos seguintes:

a) O produtor tem de ter Carta de Artesão (art. 10, segundo requisitos do art. 11);

b) Possuir Carta de Unidade Produtiva Artesanal (art. 13, segundo requisitos do art. 14).

Podem ainda os produtos (nº 1 do art. 15º-A), "mencionar o reconhecimento na

rotulagem, publicidade e demais documentos comerciais de acompanhamento dos seus

produtos, através da utilização de símbolo do qual constem as expressões: «Produzido

por artesão reconhecido» ou «Produzido em unidade produtiva artesanal reconhecida»".

Todos estes requisitos legais são regulamentados pela Portaria nº 1193/2003 de 13 de

Outubro de 2003.

Impõe-se ainda a inscrição, gratuita para os artesãos e unidades produtivas artesanais,

no Registo Nacional do Artesanato (arts. 17º, 18º e 19º).

12

Este tipo de produção de Chave Dourada, como produto artesanal, pode trazer

benefícios para os produtores pois requer um investimento pouco avultado e de retorno

relativamente rápido, com acesso a possíveis apoios nacionais e comunitários.

No entanto não se pode deixar de referir que esta não é a única perspectiva de negócio a

encarar.

Com efeito a alternativa, alem do CAE 15913, possível pode ser o CAE 15931

(produção de vinhos comuns e licorosos) e 15950 (fabricação de vermutes e outras

bebidas fermentadas não destiladas), no Repertório das Actividades Económicas, que se

regem pela lei geral da produção de bebidas alcoólicas.

Todavia, o Decreto Lei nº 3/74 de 8 de Janeiro já refere que a comercialização deste tipo

de bebida tem de ser controlada e selada pelas JNV e AGA, com aprovação das

instalações pela DGQSI, considerando que está inserida na tipologia de Bebidas

Espirituosas.

Contudo, após o Regulamento (CEE) Nº. 1576/89 do Conselho de 29 de Maio de 1989

que estabelece as regras gerais relativas à definição, à designação e à apresentação das

bebidas espirituosas, onde se refere a importância económica regional deste tipo de

produto e a necessidade de proteger tanto a denominação do produto como do território

de origem como garantia de autenticidade e de qualidade, este decreto foi actualizado

pelo Decreto-Lei n.º 178/99 de 21 de Maio de 1999, onde se refere a obrigatoriedade de

inscrição no Instituto da Vinha e do Vinho (IVV) das pessoas singulares ou colectivas,

ou dos agrupamentos destas, que exerçam, ou venham a exercer, actividade no sector

vitivinícola, bem como as normas complementares a que devem obedecer as respectivas

instalações. Ficando os produtores de Chave Doirada com a denominação de

Preparadores (art. 2º, alínea h), "pessoa singular ou colectiva, ou o agrupamento destas

pessoas, que, a partir de vinho, de derivados deste e de subprodutos da vinificação,

obtém produtos aptos a serem consumidos, com excepção do vinagre de vinho".

Este tipo de negócio embora esteja, no primeiro caso, isento de IRC, se for ponderada a

constituição de cooperativas de comercialização de produtos artesanais (Decreto-Lei N.º

442-B/88 de 30 de Novembro), desde que não excedam os 150.000 € de facturação

anual, com vantagens óbvias para os produtores, não pode excluir as vantagens de

inserção no regime normal de tributação, principalmente se o objectivo for a

rentabilização económica de forma sustentável.

Enquanto uma unidade artesanal não pode exceder os 9 trabalhadores (Decreto-Lei nº

41/2001, de 9 de Fevereiro, nº 1, excepto nas condições excepcionais previstas no nº 2),

13

o regime normal não tem limites nem de trabalhadores nem de facturação permitindo

uma comercialização mais globalizada, com proveitos muito superiores.

Cabe ao Programa para a Promoção dos Ofícios e das Microempresas Artesanais

juntamente com as agências de desenvolvimento local a tarefa de certificar os produtos

artesanais. O processo implica um levantamento histórico sobre o produto, a sua

importância na região e a avaliação da deterioração estética do produto.

Já a certificação do produto em regime geral compete ao Instituto da Vinha e do Vinho,

nos termos do Decreto-Lei n.o 99/97, de 26 de Abril, com as alterações introduzidas

pelo Decreto-Lei n.o 295/97, de 24 de Outubro, relativamente às bebidas alcoólicas de

origem vínica.

Pode ainda a região solicitar o registo de Indicação Geográfica no anexo 3 do

Regulamento (CE) N.o 110/2008 do Parlamento Europeu e do Conselho de 15 de

Janeiro de 2008. "Art. 17º: 1 - O pedido de registo de uma indicação geográfica no

anexo III deve ser apresentado à Comissão numa das línguas oficiais da União Europeia

ou acompanhado de uma tradução numa dessas línguas. Esse pedido deve ser

devidamente fundamentado e incluir uma ficha técnica que exponha as especificações

que a bebida espirituosa em causa deve respeitar. 2 - No que se refere às indicações

geográficas da Comunidade, o pedido referido no n.o 1 deve ser apresentado pelo

Estado-Membro de origem da bebida espirituosa. (com requisitos nos nºs seguintes)"

Em resumo pode-se afirmar que ambos os modelos de comercialização trazem

benefícios para os produtores/preparadores, não esquecendo, no entanto, que a decisão

final deve ser conjunta e integrada numa estratégia comum.

3 - A Produção de Chave Dourada como possível factor de Desenvolvimento Local.

O Concelho de Mação, com uma área de 405.24 km's2, é composto por 8 Freguesias,

tendo uma população total residente de 8500 habitantes, dos quais cerca de 2000 reside

na sede de Concelho.

Situada na Beira Baixa, distrito de Santarém e diocese de Portalegre, é uma região que

engloba várias tipologias territoriais: a lezíria do Ribatejo, as planícies de flora

Alentejana e as características Montanhas da Beira Baixa.

Ao falarmos de Desenvolvimento Local que abarque esta diversidade, estamos a aceitar

as diferentes composições de tecido económico, social e cultural. Nunca esquecendo a

ruralidade inerente a este concelho.

14

A Chave Dourada aparece então como um elemento catalisador comum capaz,

porventura, de fazer a ponte entre a diversidade existente, unindo esforços para a

promoção da igualdade de oportunidades no acesso ao desenvolvimento da qualidade

de vida e na redução das assimetrias.

Por ser um produto ao mesmo tempo económico, cultural e turístico, com

características únicas, pertencente ao imaginário colectivo do concelho e sendo

propriedade de todos os que se propuserem desenvolve-lo, dentro de normas específicas

a definir, nomeadamente na produção, comercialização e divulgação, pode vir a ser um

factor relevante de Desenvolvimento Local Integrado, criando emprego e riqueza

sustentável.

Poderão assim florescer várias actividades económicas, dentro das necessidades

inerentes à produção, preparação e armazenamento da Chave Dourada e de outros

produtos de origem vínica necessários à sua elaboração. Desenvolvendo a cultura das

vinhas e seus derivados em todo o concelho, de uma forma organizada e com Controlo

de Qualidade, o que irá, certamente, desenvolver quantitativamente e qualitativamente a

produção do vinho maduro normal.

4 - Inserção em programas e estratégias de desenvolvimento

Este Produto pode perfeitamente inserir-se, se for dinamizado de uma forma coerente,

sistemática e com uma preocupação de qualidade própria e local, no tecido económico

local valorizando as estruturas já existentes, desde a Restauração até ao Museus,

fazendo parcerias de acção no terreno e divulgando todo o Território onde actua,

conjuntamente com a divulgação própria do Produto Chave Dourada.

Além disso existem ainda vários programas e estratégias de desenvolvimento em que

este produto se pode enquadrar, tal como o Território e agentes locais, como o

Programa de Desenvolvimento Rural (PRODER), através de varias modalidade de

financiamento como: Implementação de Estratégias Locais de Desenvolvimento,

Intervenções Territoriais Integradas, Promoção do Valor Ambiental dos Espaços

Florestais, entre outros. O papel da Autarquia na coordenação deste tipo de projectos é

fundamental, identificando necessidades e oportunidades, negociando parcerias e

disponibilizando meios técnicos/humanos para ajudar no estudo e redacção dos

projectos individuais, sempre integrados numa Estratégia Concelhia, com vista na

definição e registo de uma Denominação Territorial, como "Indicação Geográfica"

(anexo 3 do Regulamento (CE) N.o 110/2008 do Parlamento Europeu e do Conselho de

15

15 de Janeiro de 2008. Art. 17º). Outro programa em que o Território está inserido é o

Valtejo Finicia, um Projecto de apoio, estímulo e orientação de investimentos a realizar

por Micro e Pequenas empresas no Concelho de Mação.

Está também referido nas "Orientações para uma Estratégia de Desenvolvimento

Rural", reflexões para o PEN, desenvolvido pelo MADRP, 2007/2013, que o Concelho

de Mação é Predominantemente Rural, inserindo-se este tipo de actividade no "Aumento

da competitividade dos sectores agrícola e florestal, Mediante a criação e

desenvolvimento de práticas de natureza empresarial na agricultura e floresta, numa

óptica de orientação da produção para o mercado, nomeadamente através da inovação

e estabelecimento de estratégias integradas e selectivas de fileiras com vista à sua

dinamização e sustentabilidade territorial, social e económica. A incidir também na

modernização das empresas não abrangidas em estratégias de fileiras, mas que

privilegiem o investimento em bens intangíveis". "Esta visão da estratégia para a

competitividade sustentável, numa óptica económica, social e territorial, pressupõe que

seja concebida e desenvolvida com base em objectivos específicos, entre os quais se

salienta o Redimensionar a escala de produção: A adequação à orientação para o

mercado, de modo sustentável, pressupõe a modernização das empresas, mas também a

promoção da concentração da sua gestão e o aumento da dimensão económica,

nomeadamente através da valorização dos seus produtos. Para tal, deverão criar-se as

condições necessárias para facilitar o acesso ao mercado dos factores, nomeadamente

a terra e o financiamento".

Já no PENT, é previsto um crescimento anual entre 7% a 10%, de procura, no sector

Gastronomia e Vinhos, sendo um dos 10 produtos de turismo estratégicos para Portugal,

e uma área prioritária de investimento.

5 - Recursos existentes (produtores e vinhas)

Embora não existam dados fidedignos quanto ao número de produtores existentes,

constata-se que são pouco mais que uma dúzia. Quanto às vinhas existem muitas, sendo

algumas de excelente qualidade. É todavia necessário proceder a um levantamento

qualitativo para a selecção das vinhas a inserir numa produção alargada de Chave

Dourada.

6 - Posicionamento do Produto - Potencial de Crescimento do Mercado

Resumo da redacção do PENT sobre Gastronomia e Vinhos:

16

"Portugal poderá tornar-se um destino de excelência do produto Gastronomia e Vinhos,

O mercado europeu de Gastronomia e Vinhos atingiu, em 2004, 600 mil viagens/ano

prevendo-se que, em 2015,deverá situar-se nos 1,2 milhões de viagens/ano, ou seja, um

crescimento de 7% ao ano. O consumidor de Gastronomia e Vinhos é francês (16%),

holandês (15%) e inglês (11%) e gasta entre os 150 e os 450 euros por dia, sendo que

este valor tende a ser mais elevado para viagens de aprofundamento e aprendizagem

devido à inclusão de actividades temáticas - por exemplo cursos e workshops.

Actualmente, Portugal não oferece um produto estruturado, devido à falta de adequação

da oferta ao turista - os museus/caves de vinho estão pouco adaptados à actividade

turística, tendo falta de pessoal qualificado e horários desadequados. A reduzida

dimensão das empresas torna difícil competir a um nível internacional.

Apesar da situação actual, o país poderá ambicionar um posicionamento de excelência

no mercado. A riqueza gastronómica e a qualidade dos vinhos nacionais, são os

ingredientes certos para a estruturação de produtos dirigidos a elementos de elevada

qualificação socioeconómica. É ainda necessário desenvolver o produto nas regiões em

que este não constitui uma motivação primária, dada a sua importância para responder a

motivações secundárias e o seu peso na taxa de retorno do turista. Portugal necessita

ainda de utilizar os conteúdos que tem para criar uma identidade gastronómica mais

marcante, à semelhança do que se passa em Espanha.

As regiões prioritárias para investimentos no produto Gastronomia e Vinhos são o Porto

e Norte, o Alentejo e o Centro."

É de frisar, também, que a produção em larga escala da Chave Dourada só pode gerar

proveitos directos e indirectos, se existir como suporte técnico um adequado e eficiente

Plano de Marketing, elaborado em conjunto e simultaneamente com o projecto de

ampliação dessa produção. Também o registo da Marca Chave Dourada é indispensável

e urgente, condição para poder ser comercializada com segurança patrimonial e

prestigio.

7 - Concorrentes Directos na Classe

Local e Regional: não existe.

Nacional: Vinho do Porto e Vinho da Madeira

17

8 - Análise SWOT

ANÁLISE SWOT: PRODUÇÃO DE CHAVE DOURADA

FORÇAS

- Produto singular e único

- Produto de Qualidade reconhecida

- A existência de poucos produtores

iniciais permite fazer um controlo

mais eficiente do produto e da

definição da sua organização futura

- Ausência de registo da Marca

Chave Dourada

- Ausência de Estratégia de

Produção

- Ausência de estruturas locais de

associativismo, apoio e

desenvolvimento

- Possíveis dificuldades de

concertação entre os parceiros locais

FRAQUEZAS

OPORTUNIDADES

- Existência de um vasto e potencial

mercado já identificado

- Possibilidade de complementar

com outro tipo de recursos e

produtos

- Possibilidade de apoios financeiros

e investimentos institucionais

- Legislação favorável

- Inserção em estratégias de

desenvolvimento regionais e

nacionais

- Concorrência (produto similar em

outros destinos nacionais) com

oferta de qualidade e recorrendo a

técnicas agressivas de Marketing

- Por inoperância surgirem produtos

semelhantes que tomem a primazia

em territórios adjacentes

- Registo da Marca por uma

entidade exterior.

AMEAÇAS

18

9 - Efeitos de Arrastamento e relações com outros produtos no Território.

A utilização de produtos regionais complementares à oferta e a utilização de várias

estruturas locais, tais como a restauração, é uma forma de valorização da cadeia de

fornecimentos incorporando efeitos estruturantes.

A ampliação do produto para uma dimensão sustentável do ponto de vista económica,

vai criar necessidades de vários serviços específicos que se podem alargar a outras

actividades, criando empregos com vários tipos de necessidade e qualificação. Muitos

exemplos poderiam ser aqui referidos, mas ficamo-nos apenas por alguns:

Requalificação das vinhas e dos vinhos maduros locais, condição para a ampliação da

produção; produção de aguardentes e vinhos abafados necessários para a preparação do

produto; industria de tanoaria a partir da reciclagem de madeira de pipos do Vinho do

Porto; industria de produtos regionais, tradicionalmente servidos em complemento,

como as Fofas de Mação; empresas de armazenamento e distribuição.

Se exceptuarmos alguns armazenistas e outras entidades de venda e distribuição do

Produto, onde o "efeito de fuga", tem uma margem comercial negociada, não é

previsível a existência a curto, médio e longo prazo de outros Leakages, pois todas as

estruturas e agentes serão preferencialmente locais.

10 - Necessidade de criação de Estruturas específicas no Território

Embora a certificação seja da alçada do IVV ou do PPOMA, será necessário a parceria

deste instituto com organizações locais, Associação de Produtores ou Confraria e

Autarquia, que conjuntamente possam definir essa certificação mantendo os níveis de

qualidade organoplética exigidos para a singularidade e qualidade do produto.

A ideia de uma Confraria da Chave Dourada é algo que já foi sugerido por alguns dos

produtores, encabeçados pelo Sr. António Ferreira, natural de Coimbra e radicado em

Mação, tendo já esboçado um exemplar de estatutos que ainda estão em discussão

restrita.

Apesar de os estatutos serem de cariz folclórica ao bom jeito das Confrarias

portuguesas, tem na sua redacção alguns artigos bastante interessantes como os

transcritos em seguida:

Artigo 3º - A Confraria da "Chave Dourada" visa os seguintes fins:

a) Promover, divulgar e preservar o fabrico do vinho "Chave Dourada", dos bons

néctares pelos métodos tradicionais ou por outros achados como convenientes e

capazes.

19

b) Futura demarcação da zona de produção e fabrico da "Chave Dourada" e dos bons

néctares do concelho.

c) Promover anualmente em Mação o "Dia da Chave Dourada e do bom néctar

maçaense".

d) Promover, divulgar e preservar outras tradições, usos e costumes do concelho em

risco de desaparecimento.

Artigo 4º -Para atingir os fins descritos no artigo anterior deverão os confrades

promover primeiramente as seguintes acções:

a) Levantamento dos produtores ainda existentes no concelho de Mação e seus

processos de fabrico.

b) Levantamento do tipo de castas e terrenos mais aconselhados para o seu fabrico.

c) Promover o fabrico de pipas de Chave Dourada.

d) Escolha do "Dia da Chave Dourada e do bom néctar maçaense", que coincidirá

com o Sábado de Páscoa.

e) Levantamento de tradições, usos e costumes do concelho.

Outro tipo de estruturas seriam também necessários e complementares como a criação

da Casa Mãe da Chave Dourada, um espaço turístico que além de museu serviria para

divulgação e comercialização local do produto, organização de encontros e

conferências, cursos de vinhos, doçarias e outros produtos regionais, nacionais e

internacionais que se identificassem com o "espírito" da Chave Doirada. Serviria ainda

para comercializar a Mãe (sem a qual será difícil iniciar o negócio) fornecida pelos

produtores mais antigos, para novos produtores/preparadores que exercessem a sua

actividade exclusivamente no Concelho de Mação.

Outras funções poderiam ainda ser exercidas nesta Casa Mãe, como a Manutenção de

um Pipo Comunitário de Chave Dourada, sendo a sua abertura anual motivo de festa e

confraternização.

11 - Valor do negócio

O valor geral deste negócio actualmente é insignificante, se considerarmos os dados

acima referidos. No entanto, com a ampliação da produção a um nível de produtor

médio que já possua instalações adequadas, poderemos falar de 3000 garrafas ano com

valor de venda a um preço unitário de 15 €, num total de 45.000€ anuais.

20

Como para a produção de 3.000 garrafas, são necessários 10.000 Litros iniciais, com

uma actualização de 3.000 Litros anuais, o que dá uma despesa anual aproximada de

12.000 € a preços actuais, com um retorno bruto de 33.000 € anuais.

Sendo o investimento inicial, o pipo e a mistura, de 500 € por pipo de 100 Litros, e que

para 10.000 Litros são necessários 100 pipos, temos como somatório um investimento

inicial de 50.000 €.

Como a produção com qualidade necessita de um período de repouso da mistura sobre

a Mãe de pelo menos 5 anos, estamos a falar de um período de carência de 5 anos onde

não existe retorno financeiro, mas praticamente também não existe manutenção.

Temos, assim, uma recuperação financeira no mínimo a 10 anos, com um lucro anual a

partir dos 5 anos de 23.000 € e a partir dos 10 anos de 33.000 €.

Estes números, como é óbvio, não são rigorosos, pois não incluem o preço com pessoal

e percentagens de comercialização, nem incluem a capacidade unitária das garrafas que

é de 0,75 Litros e não de 1,00 Litros como na simulação. Também não têm em conta o

preço actual da garrafa que ronda os 25 €.

Apesar de todas estas imprecisões, os preços iniciais e de manutenção estão correctos e

baseiam-se nos preços praticados pelos produtores locais, nos vinhos e derivados

vínicos usados na preparação da Chave Dourada, e no preço dos pipos praticados em

Vila Nova de Gaia.

Donde se depreende que não sendo um negócio de enriquecimento rápido, pode ser um

negócio perfeitamente sustentável que, com os apoios certos incluindo a construção ou

requalificação das instalações, pode mesmo ser rentabilizado durante o período de

carência.

Se multiplicarmos estes números por 20 possíveis produtores estamos a falar de uma

movimentação anual de quase 700 mil euros.

Conclusão

Depois de traçado o perfil histórico deste peculiar vinho que está inserido na tipologia

dos vinhos generosos ou espirituosos, fica a saber-se que este vinho actualmente apenas

conhecido por alguns "iniciados", já foi um vinho com importância significativa no

desenvolvimento económico do Concelho de Mação, chegando mesmo a ser um dos

Preferidos do Marquês de Pombal e sua esposa Condessa de Oeiras. Supôs-se ainda,

com alguma possibilidade de certeza, que o Padre António Pereira de Figueiredo pode

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ser uma figura incontornável na divulgação da Chave Dourada, que esta deve o nome

aos Brasões da Igreja e que, provavelmente era em terras diocesanas que era produzida.

Definimos, desta forma, fundamentos históricos que possam levar à certificação e ao

pedido de registo de "Indicação Geográfica", segundo as normativas da Comunidade

Europeia.

Quanto à sua produção e comercialização, não só existe legislação favorável como

estão previstos apoios financeiros para o sector, o que, apesar do muito caminho que há

percorrer, em infra-estruturas e sistemas de organização local e conjunta com a

autarquia e o IVV ou PPOMA, nos dá indicações suficientemente credíveis para

podermos afirmar que o produto/negócio Chave Dourada, suportado por um eficiente

Plano de Marketing, é suficientemente viável e gerador de uma economia sustentável,

sendo um factor capital a ter em conta numa futura Estratégia de Desenvolvimento

Local Integrado.

22

BIBLIOGRAFIA

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http://portal.ua.pt/projectos/resea/legis/286.htm (20/04/2009)

Outros documentos consultados

PDFs dos "PowerPoints" da aulas do professor Dr. Luis Mota Figueira e respectivos

apontamentos.